São três segundas-feiras do mês de abril. Dia 11 em Campos Novos, dia 18 em Curitibanos e dia 25 em Caçador. Sempre no Cine Lúmine. Desta forma nós unimos o cinema e a história da nossa gente. Foi assim que a Pupilo TV, junto com a VMS Produções, resgatou a história da Guerra do Contestado.
Contada por professores de História, pesquisadores, gente que se interessa em contar de uma forma que se entenda como tudo aconteceu. Como foi construída a estrada de ferro, quem eram os caboclos que habitavam à sua volta, como se transformaram os limites do nosso Estado.
Até hoje esta história está nos monumentos que visitamos, nos museus, nos locais guardados, mas às vezes nem mesmo os mais velhos são capazes de lembrar o que esses lugares representam. Já se passaram mais de 100 anos.
Mas o cinema serve também para isso. O que chamamos de educação e cultura. Um dos motivos pelos quais existem editais de cultura, como este o qual está alinhado este projeto. Realização: Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc.
Serão exibidos quatro curtas-metragens – Irani, do Rogério Sganzerla (1983), Olhar Contestado, da Fabiane Balvedi (2015), Kiki, o Ritual da Resistência Kaingang (2014), da Ilka Goldschmidt e do Cassiano Vitorino e Larfiagem (2017), da Gabi Bresola. E também um filme longo, o Terra Cabocla (2015), da Márcia Paraíso e do Ralf Tambke. Todos filmes que ajudam a entender como se formou o povo e a região onde a gente vive. Em cada uma das três cidades serão realizadas três sessões.
Os horários diurnos estão reservados às escolas públicas municipais e estaduais. Os horários já foram previamente agendados. As sessões serão acompanhadas de debates com pesquisadores, realizadores e professores que estarão acompanhando os seus alunos. Para as escolas, optamos por exibir os quatro curtas-metragens, visto que nós acreditamos que os filmes curtos são mais fáceis de serem trabalhados didaticamente de forma posterior pelos professores
À noite,será exibido o longa-metragem Terra Cabocla (2015), sempre acompanhado de um ou dois curta-metragens, em cada local de exibição. Sempre acompanhado de debate, o que trará aproximará o tema das questões da atualidade.
FILMES
TERRA CABOCLA (Marcia Paraiso e Ralf Tambke, 2015, 82m)
Um povo simples, de crenças e rituais tradicionais habita a região do Planalto Catarinense. Símbolos de uma forte resistência cultural, os caboclos enfrentaram uma guerra de extermínio há 100 anos atrás, quando sofreram severos ataques de grandes fazendeiros, do Estado e das oligarquias que estavam de olho nas terras que o grupo ocupava. Apesar da Guerra do Contestado ter quase dizimado a cultura local, o povo caboclo conseguiu se reerguer e mantê-la viva até os dias atuais.
KIKI, O RITUAL DE RESISTÊNCIA KAINGANG (Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, 2014, 34m)
Kiki é um ritual da etnia indígena kaingang. Realizado na aldeia Kondá, em Santa Catarina, inclui a construção de casas na mata, a chegada dos pajés, a preparação da bebida, a pintura das marcas nos rostos, definindo as duas metades: kamé e kainru-kré.
IRANI (Rogério Sganzerla, 1983 – 8 m)
O cineasta, com a câmera na mão, se mistura aos personagens da festa que marca o aniversário da Guerra do Contestado, na cidade de Irani. Uma câmera que se aproxima de frente aos cavalos, que imprime movimentos circulares, estabelece uma gramática que emerge, a partir da encenação que a população da cidade constrói. O filme é a sua maneira de olhar para o seu passado a fim de constituir uma história que lhe represente.
OLHAR CONTESTADO (Fabianne Balvedi e Fernando Severo, 2012, 15m)
A animação de câmeras virtuais sobre registros fotográficos, ilustrações e desenhos rotoscopiados sobre documentários da época fornecem os elementos visuais necessários para a reconstituição minuciosa dos locais, personagens e eventos do conflito. As principais fotografias utilizadas são de Claro Jansson, fotógrafo contratado pela Madeireira Lumber, que registrou passagens fundamentais daquela que ficou conhecida como “Guerra Santa do Sul”. “O Contestado ainda é uma guerra cheia de interrogações, cheia de dúvidas, do que realmente aconteceu. Além do importante caráter histórico/documental, o filme se destaca pelo fato de ser aberto (filme e fontes disponibilizados livremente) e ter sido produzido com ferramentas livres.)
LARFIAGEM
(Gabi Bresola, 2017, 18m)
Engraxates, carregadores de malas e outras crianças de 7 a 15 anos de idade conviviam com viajantes da estação ferroviária de Herval d’Oeste (SC), nos anos de 1950. Para sobreviver, comprar gibis e ir ao cinema, driblar fiscais, policiais e até os próprios pais, inventaram uma língua própria. Hoje, décadas depois,a Larfiagem aparece como memória de seus últimos falantes, agora septuagenários, mas que ainda conhecem, ensinam e decifram os segredos de seus substantivos e pronomes.
1a Mostra Chica Pelega
Em 23 de agosto de 2021, aconteceu a 1a Mostra Chica Pelega, no Cine Gracher, em Joaçaba. Os filmes foram exibidos a alunos da rede pública e privada e também ao público em geral. Foram exibidos PSW – Uma crônica subversiva (1987, 50 min) e O Primeiro assalto ao trem pagador (Ernoy Luiz Mattiello, 2013, 56 min), além dos outros cinco filmes que vão ser exibidos na segunda mostra.
Chica Pelega
Francisca Roberta, identificada como Chica Pelega, ajudava os feridos da guerra, fazia para eles chás de ervas que os curavam. Esta prática ela aprendeu com o Monge João Maria, a quem seguia. Ela morava com os pais em Limeira (Joaçaba) e ficou conhecida por este nome porque, depois de perder o pai, o noivo e a propriedade, foi combater ao lado dos caboclos, defendendo seu povo, sobrando-lhe de material apenas o pelego do cavalo que ela montava.
Assim, as narrativas populares contam a história de Chica, considerada um ícone, um modelo de conduta e resistência de grupos subalternos. A combatente foi assassinada em 08 de fevereiro de 1914, no segundo Massacre do Taquarussu do Bonsucesso (hoje Fraiburgo), e hoje é reconhecida como a síntese da luta da mulher cabocla sertaneja.
Guerra do Contestado
Embora tratada pela historiografia como uma guerra santa, o Contestado trata acima de tudo da luta pela terra. Falar sobre este conflito, para nós, catarinenses, é urgente. A terra nos une, a terra nos dá também e principalmente a identidade cabocla, indígena, negra, misturada com o imigrante branco europeu. Mas precisamos falar desta terra que traz essas tantas identidades silenciadas.
Informações Assessoria de imprensa.
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